Apesar das profundas mudanças, são muitos os testemunhos que temos da actividade de arquitectos desde os tempos mais remotos.
Inicialmente uma profissão muito ligada à construção das próprias obras que idealizava, foi progressivamente libertando-se dessas tarefas para se centrar na concepção das mesmas, numa sucessão de diversificadas actividades, que hoje em dia vão desde o planeamento do território até ao mobiliário.
O arquitecto tem um campo de intervenção que se pode estender por áreas tão diversas como as de várias formas de expressão artística, até à elaboração de estudos e planos ou intervenções que se estendem da apreciação, direcção ou coordenação de projectos ou acompanhamento e controle de obras, até ao vasto campo de trabalhos de análise e elaboração de estudos envolvendo todas estas áreas.
Em períodos em que pensar e fazer estavam intimamente ligados, chegou mesmo a confundir-se a referência a engenheiros e arquitectos, por vezes aplicada quase como sinónimos ainda que uma sempre mais ligada à execução das obras e a outra mais ligada à concepção das mesmas, uma diferenciação clara e definitivamente assumida desde o período do Renascimento.
Apesar desta distinção, e ao contrário da maior parte das outras profissões, esta continua a ser claramente uma profissão de não especialistas. Ou melhor, de especialistas em não ser especialistas. Não será a única, mas é, seguramente, uma das últimas que assim podemos caracterizar.
Ainda no século passado, Adolf Loos acentuava a diferença entre o artesão (que sabe fazer) e a cultura do arquitecto, insistindo para este no papel de síntese e de construtor de pontes entre as várias actividades envolvidas.
Mais recentemente ainda, Umberto Eco referia-se ao arquitecto mesmo como uma das últimas figuras do Humanismo pela sua vocação interdisciplinar.
De facto, a prática profissional do arquitecto não se resume àquilo que podemos designar de actividade projectista, com uma formação em áreas de conhecimento profundamente diversificadas, das mais técnicas, sejam as económicas ou as tecnológicas, até às humanistas. Desde o saber como se podem materializar as obras até ao entendimento das necessidades sociológicas, psicológicas ou físicas das pessoas para quem a arquitectura se destina, cabe-lhe a capacidade de tudo sintetizar, para com isso produzir aqueles que são dos testemunhos mais completos da expressão da cultura de cada época.
É uma formação multifacetada, que temos mantido entre nós, em que as várias tendências reflectem as diferentes realidades de cada sociedade. Uma formação que permitiu não só a alguns colegas, sobretudo recém-formados, encontrarem fora do país o trabalho que, durante os difíceis anos da crise, aqui rareava, como assegurar uma prática profissional bastante abrangente.
É uma profissão que tem mantido uma estrutura de ensino muito abrangente, quer na relação teórico-prática, quer na pluralidade de matérias abordadas, e com um exercício profissional sistematicamente reconhecido como sendo de grande qualidade. Todos estes aspectos têm permitido o significativo reconhecimento e mérito internacional dos arquitectos portugueses.
Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico