“A liberdade não se vende por todo o ouro do mundo.”
As palavras ecoam por toda a cidade. São memórias dos tempos medievais eternizadas na inscrição cravada no antigo portão do Forte de Lovrijenac. São palavras recordadas por um povo que, na manhã de 5 de dezembro de 1991, acordava com um brutal ataque dos seus irmãos. Pelo meio, houve venezianos, um terramoto avassalador, a conquista de Napoleão, a soberania austríaca e a integração na Jugoslávia. Perante todas, por carácter e princípio, o povo nunca se rendeu. E, por isso, fiel a si mesma, a cidade sobreviveu, marcada pelas cicatrizes da luta, mas intocada na sua glória de potência marítima. Afinal, não foi por acaso que foi escolhida como local para as filmagens da “Guerra dos Tronos”…
É este espírito de eterna guerreira, sempre alerta a espreitar quem chega por mar, que nos seduz em Dubrovnik. Era dele que ia à procura quando parti rumo à Croácia, numa viagem há muito ansiada. E nem o bulício do infindável curso de turistas que enchem a cidade velha, fechada sobre si pelas muralhas, fez com que a antiga República de Ragusa desiludisse.
Dubrovnik é, de facto, fantástica. É-lo de todos os ângulos. Das alturas das muralhas, do forte ou do teleférico… Das reminiscências de outrora que latejam nos majestosos palácios Rector e Sponza, nos mosteiros Franciscano e Dominicano, nos envolventes museu etnográfico e Red History Museum, na Catedral e nas dezenas de igrejas que aloja, cada uma mais bela que a outra… Da expiação, por uma qualquer janela, dos pedaços de terra espalhados pelo mar que lhe pertencem. Do labirinto em escarpa que são as suas mágicas ruas, preenchidas por esplanadas onde podemos experimentar as imperdíveis iguarias da terra: a peka, o Crni Rižot (risoto negro) e os gulosos fritule.
A cidade é estonteante vista do mar, quando se entra pelo porto antigo depois de uma viagem de barco à descoberta da reserva natural da ilha de Lokrum ou depois de um café na pitoresca vila de Cavtat, mas também o é, do lado oposto, quando chegamos ao novo porto vindos no catamarã de Split, Korkula ou no cruzeiro para um dia de mergulhos pelas ilhas Elafiti, locais igualmente merecedores de visita. A cidade é inesquecível à beira-mar, degustando um gelado artesanal na calma de uma espreguiçadeira junto a uma das praias de seixos que ali abundam.
Dubrovnik é linda em espírito, tão só, mas tão perto de todos, a devolver, aos poucos, a confiança aos irmãos, apesar das mágoas do passado. Isolada do resto da Croácia por fronteiras com a Bósnia Herzegovina, é o local perfeito para, de carro, partir à descoberta das quedas de água de Kravice e das influências islâmicas de Mostar, na região da Bósnia, ou, do lado oposto, para atravessar a montanhosa costa de Montenegro e descobrir a calma da Baía de Kotor, a eclética Budva e a principesca Antiga Capital Real de Cetinje.
Mas, independentemente das voltas que se dê, é impossível não sorrir quando se vê Dubrovnik outra vez. E quando um local detém tanta riqueza, como pode o ouro seduzi-la a perder-se?...